Nos últimos dias, tem gerado
bastante discussão um vídeo gravado por um estudante do curso de Administração
da USP. Nele, um grupo de estudantes negros toma alguns minutos da aula para,
em linhas gerais, abordar o racismo estrutural da Universidade de São Paulo,
mas são interrompidos pela professora e também por alguns alunos que, nas suas
palavras, “querem ter aula”. O episódio evoca uma série de temas e, entre todos
eles, quero aqui destacar um perfil de estudante que as melhores universidades
do país têm selecionado em seus vestibulares e, cumprindo sua função social, seguem
formando em seus espaços acadêmicos: o maníaco das horas-bunda.
A expressão “horas-bunda”, curiosamente, aprendi com um excelente professor da
faculdade de Letras, na própria USP. Ele, professor-titular nas três estaduais
paulistas, insistia conosco na necessidade de não vermos a sala de aula como um
fim, mas como um dos espaços de aprendizado. Dizia ele que muitos alunos agiam
como se o simples ato de sentar-se numa sala de aula fosse o suficiente para
serem bons estudantes e, para debochar dessa atitude, ele a tratava
carinhosamente como um acúmulo de “horas-bunda”.
No famigerado vídeo, um jovem adulto universitário,
usa o argumento do “quero ter aula” para silenciar o protesto dos jovens
negros. Convidado a refletir sobre a realidade que o cercava, ele limitou-se a
dizer que a aula de microeconomia não era adequada para aquele tipo de debate.
No entanto, vale destacar que, antes de ele se manifestar, a reação da própria
professora certamente o encorajara, pedindo que os jovens se retirassem em nome
da sacrossanta aula, que não podia parar.
Sem saber, o jovem que registrou o embate
entre os grupos nos brindou com uma síntese de um coquetel perigosíssimo: uma
instituição ainda elitista, em meio a um país que vem lutando para combater as
desigualdades que o assolam, cujo sistema de ingresso privilegia estudantes
moldados na cultura do “senta e estuda”, cultuada nas “melhores
escolas do país” – ou pelo menos das que mais aprovam nos mais concorridos
vestibulares.
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